Educação e inovação em universidades dos Estados Unidos

por Arthur William

Passei 7 dias visitando universidades dos Estados Unidos como Stanford, Harvard, MIT, Tufts e Boston University. Escreverei aqui as impressões que tive do “4° Seminário Internacional de Inovação no Ensino Superior”, organizado pelo Instituto Expertise. A viagem foi um prêmio da Unigranrio por ter vencido o concurso “Professor Incrível”, que escolheu as melhores metodologias de ensino praticadas na universidade. Fiz o vídeo ao lado como resumo do que vi e vivi.

Arthur William

Professor, Unigranrio

Tipos de metodologias na Educação

por Paulo Blikstein (Stanford)


Na Califórnia, visitamos a universidade de Stanford, que fica próxima ao Vale do Silício. Lá, o seminário foi organizado em parceria com o Lemann Center, que investiga e incentiva a inovação na Educação. O professor brasileiro Paulo Blikstein possui um laboratório na Escola de Educação, o TLTL (Transformative Learning Technologies Lab), onde experimenta diversas metodologias de ensino.

Para Blikstein, a Educação deve prever atividades que privilegiem mais a criatividade e menos tarefas de repetição. O professor defende que vários recursos sejam usados em sala de aula. Em sua opinião, não existe uma fórmula pronta, mas sim mesclas entre ações para criar uma metodologia apropriada para cada caso.

Dicas de ganhador do Prêmio Nobel

O vencedor do Nobel de Física, Carl Wieman, participou do seminário em Stanford e disse que um dos caminhos para que a inovação da Educação seja majoritária é a premiação de professores que desenvolvem essas metodologias. Para Wieman, o apoio das instituições a iniciativas individuais força outros docentes a melhorarem suas aulas.

Ele problematizou o conceito de “sala de aula invertida” (flipped classroom) ao afirmar que poucos alunos estudam antes dos encontros presenciais. Sua sugetão é que os estudantes façam o contrário: tenham acesso às informações em sala e desenvolvam projetos fora dela.

Ele indicou ainda que os exercícios práticos sejam feitos em grupos que misturem alunos com alto e baixo desempenho acadêmico. Em sua pesquisa, concluiu que o nível de apredizagem é maior quando o estudante com menor desempenho comanda os trabalhos práticos. Se o “mais inteligente” assumir a liderança, o restante do grupo não aprende nada.

Formação dos professores

Bennett Goldberg, da Boston University, aposta no treinamento dos professores para a Educação do futuro. Em sua visão, é preciso promover a integração entre os diversos tipos de docentes, a fim de que toda a universidade seja contagiada por aqueles que inovam no ensino.

Goldberg divide uma aula em 5 etapas. A “pré-aula” é realizada em casa, com a pesquisa de assuntos que serão abordados nos encontros presenciais. A primeira parte da aula é composta por uma rápida palestra expositiva para depois a turma discutir os assuntos em grupos. Após a conversa, os alunos começam a resolver questões práticas em laboratório. Por fim, desenvolvem seus projetos fora do tempo de aula, seja em casa ou na própria universidade.

minutos

Máximo de tempo de aula-palestra

Aula-palestra: no máximo 15 minutos

Atualmente, a grande maioria das aulas em todo o mundo acontece num modelo de palestra, em que o professor discursa para os alunos durante algumas horas. Isto ocorre há muitos séculos, sendo que pouca coisa mudou deste então. O quadro negro e o projetor multimídia são inovações que mudaram muito pouco essa dinâmica. Estudos mostram que o nível de aprendizagem em uma aula-palestra cai muito após os primeiros 15 minutos. Por isso, é necessário promover diferentes dinâmicas durante o tempo de uma aula.

Educação a Distância (EaD) e MOOCs

MITx

Criador do EdX, Sanjay Sarma, do MIT, mostrou que muita pouca coisa mudou ao longo dos últimos séculos em relação à Educação, que é prioritariamente baseada em longas palestras expositivas. Ele mostrou como os cursos massivos online (MOOCs) podem democratizar a Educação ao tornar acessíveis aulas de Harvard e do MIT a qualquer pessoa do mundo.

Sanjay indicou que é possível incluir os cursos do EdX (plataforma MOOC do MIT e de Harvard) como formação complementar a estudantes de outras universidades.

HarvardX

Já o professor de Harvard, Robert Lue, apontou para o futuro da Educação a Distância (EaD), que estaria menos relacionada aos MOOCs e mais à experiência online. A esse fenônemo, dá o nome de “OLE – Online Learning Experience”. Simuladores virtuais online seriam o ponto forte desse caminho.

Projetos como forma de aprendizado real

Na universidade de Tufts, os professores David Walt e Lauren Linton falaram sobre o desenvolvimento de projetos pelos alunos, através dos quais o conhecimento é construído de uma forma mais eficiente que no modelo de palestras. Os professores estimulam os alunos a pensarem projetos ligados às disciplinas e promovem concursos para a escolha dos melhores, que serão financiados pela própria universidade.

Os demais projetos são orientados a buscarem recursos para seu desenvolvimento como editais governamentais, dinheiro de fundações e até mesmo estratégias de financiamento coletivo (crowdfunding).

Salas e laboratórios

Boston University

Na Boston University, as salas de aula são compostas por diversas mesas para cerca de 10 alunos. O professor passa rapidamente uma teoria em no máximo 15 minutos e depois os estudantes resolvem as tarefas em grupo. Após, respondem a uma rápida avaiação online para o professor saber se todos compreenderam o assunto abordado. A soma dessas mini-avaliações assume o lugar da temida prova final.

Nas aulas, há alunos de diversos períodos e cursos. A mistura ajuda no aprendizado e na resolução dos problemas propostos. Os grupos são incentivados a escreverem suas ideias nas paredes da sala, o que auxilia na ludicidade.

MIT (Massachusetts Institute of Technology)

Quase todas as salas de aula do MIT têm alguma das paredes de vidro, dando visibilidade ao que é desenvolvido em seu interior. O Media Lab é referência na área de inovação com laboratórios sem paredes, videogames nos corredores e copa na entrada da sala de aula. O local é moldado para trazer conforto aos alunos, que trabalham em seus projetos até altas horas da noite.

A maioria dos laboratórios divide uma mesma sala, facilitando a troca de conhecimento e a cooperação entre os diversos projetos.

Stanford

A escola de Design (d.school) segue a linha de laboratórios do MIT com paredes de vidro e compartilhamento de espaços comuns. As paredes são utilizadas para planejamento de tarefas através de metodologias ágeis de gerenciamento de projetos como o Scrum.

Conclusões

Foram 7 dias de intenso conhecimento, o que é impossível resumir em apenas um texto. Vou escrever mais detalhadamente sobre cada uma das experiências nas próximas publicações. O mais importante é que a partir dessas referências, tive várias ideias as quais pretendo aplicar em 2016 no laboratório que coordeno e em minhas aulas na Unigranrio. Algumas delas já foram iniciadas em 2015.1 e 2015.2.
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