TV PÚBLICA E CONVERGÊNCIA: OPERADOR DE REDE, SOCIALCAST E TRANSMÍDIA

Autor: Arthur William
Orientador: José Raimundo Cristóvam

Apresentado em fevereiro de 2013 para o MBA de TV Digital, Radiodifusão e Novas Mídias de Comunicação Eletrônica (UFF – Universidade Federal Fluminense)

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Nos últimos anos, foram muitas as transformações sofridas pelas rádios e TVs do chamado campo público (Públicas, Estatais, Culturais, Comunitárias e Universitárias). Este trabalho analisa esse processo dentro de um cenário de convergência tecnológica e suas perspectivas para o futuro. De que forma essas emissoras se articulam com Internet, TV digital, rádio digital e mídias sociais.

A EBC (Empresa Brasil de Comunicação), criada há 5 anos, se coloca como cabeça de uma rede pública de TV, rádio e Web. Em 2012, a empresa retomou o projeto do Operador de Rede Digital, iniciativa que promete levar a programação dos canais públicos para todo o país. Foi criada ainda uma Superintendência de Suporte para cuidar do tema, chefiada pelo ex-assessor da Casa Civil, André Barbosa, ator responsável pela implementação do padrão nipo-brasileiro de TV Digital em nosso país, que ajudou a levar o ISDB para América Latina e África.

Também nesse ano, a EBC inaugurou um portal na internet. O objetivo é reunir o conteúdo produzido por seus canais (TV Brasil, TV Brasil Internacional, Agência Brasil, Radioagência Nacional, Rádios MEC e Rádios Nacional), além de veicular material próprio.

Paralelamente, o governo brasileiro estuda a criação de um novo marco regulatório para as Comunicações, já que a atual legislação é antiga.

Com a crise do modelo de sustentabilidade das emissoras privadas (baseada na publicidade comercial), o sistema público de comunicação ganha importância vital para que seja garantido o direito humano à Comunicação. As emissoras públicas têm fontes diversas de financiamento como impostos, verba do orçamento e fundo público. Apesar de plurais, há pontos em comum, além de tendências e barreiras idênticas.

Em especial no Brasil, a convergência tecnológica tem um papel fundamental para que as TVs públicas ocupem função de destaque na comunicação. Os limites impostos pela legislação, a baixa qualidade no sinal de transmissão e reduzida presença nos territórios nacional e internacional colocam as mídias sociais como uma essencial plataforma de distribuição de conteúdos.

A integração entre TV e internet gera aparelhos convergentes, como TVs conectadas (broadband TVs), mas ações de conteúdo ainda não estão claras, já que a internet é vista por considerável parte dos profissionais de TV como concorrência. Há lacunas ainda como o rádio digital, cujo padrão não é definido. Enquanto isso, as emissoras AM estudam sua migração para uma faixa estendida do FM, atualmente ocupadas pelos canais 5 e 6 de televisão.

O futuro das comunicações está repleto de inovações. Cabe às TVs públicas a utilização dessas novidades para cumprir sua função de empreender uma comunicação interativa, colaborativa e comprometida com o interesse público.

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Muitos foram os avanços das empresas de comunicação visando a convergência de mídias, porém ainda há muitos entraves que dificultam um fluxo de trabalho (workflow) que unifique áreas até então distintas, como televisão, rádio e internet. A cultura (mentalidade) das empresas e o engessamento funcional por conta das regras trabalhistas são outros fatores dificultantes.

A popularização das mídias sociais impulsiona as relações entre setores, derruba as paredes e integra equipes. A responsabilidade sobre a presença na internet ainda não está clara. Algumas empresas criam setores para cuidar exclusivamente disto, já outras estabelecem diretrizes transversais, as quais são seguidas pelos profissionais de diversas áreas.

O Rádio Digital ainda não ganhou popularidade em nenhum país. Na onda contrária, Portugal desligou seus transmissores. A aposta é na conectividade da internet, que permite a um aparelho receber milhões de canais de áudio com qualidade. No caso do rádio, a radiodifusão não apresentou benefícios suficientes para a digitalização.

O áudio é uma mídia apropriada para o perfil de interação do futuro, onde uma pessoa fará várias tarefas ao mesmo tempo. O sucesso dos podcasts comprova esta hipótese. Só é preciso que os atuais produtores repensem seus trabalhos dentro de um cenário de convergência (Figura 10). Não são mais produtores de rádio, mas sim produtores da mídia áudio para diversas plataformas: rádio, streaming e podcast.

Outro ponto é que o ROI nas mídias sociais é muito maior que o da digitalização. Resultado disso é o pedido das TVs brasileiras para o adiamento do desligamento das transmissões analógicas e seu forte investimento na web. Em outra frente, o socialcast torna todo conteúdo global, ou seja, a comunicação local tem que ser repensada. Isso gera uma redução das identidades locais e fortalecimento de outras identidades. O conceito de comunidade, sempre restrito à questão territorial, passa a ser ligado a afinidades outras. Muitas vezes, uma pessoa tem mais proximidade com alguém que mora a milhares de quilômetros de sua residência do que com seu vizinho, com que nem ao menos fala e sabe o nome.

A comunicação multiplataforma e transmidiática é mais custosa e complexa. As empresas públicas têm grande possibilidade de se destacarem neste cenário, já que seu modelo de negócios não depende da tradicional publicidade comercial. Novas empresas comerciais compreendem isso e têm mais sucesso do que velhos players que enfrentam dificuldades na adaptação.

O desafio das públicas é ter a agilidade que a atualidade demanda. Se ficarem presas a velhas convenções, estarão fadas ao fracasso. No caso delas, o fracasso de público, com redução de audiência. E também correr o risco de serem extintas, já que perderiam a justificativa da existência, na medida em que o serviço prestado não seria mais necessário à população.

No caso brasileiro, a EBC é uma empresa estatal, com quadro funcional composto majoritariamente por celetistas concursados. Entretanto, pode ter como empresa auxiliar a Acerp, uma associação privada sem fins lucrativos. A Acerp seria o braço responsável pela pesquisa e inovação, função essencial para o desenvolvimento do sistema público de comunicação, a qual nem EBC, nem demais TVs estaduais conseguem desempenhar com excelência.

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Arthur William Cardoso Santos
Arthur William Cardoso Santos

Arthur William Santos é mestre em Educação, Cultura e Comunicação (UERJ), pós-graduado no MBA de TV Digital, Radiodifusão e Novas Mídias de Comunicação Eletrônica (UFF), graduado em Comunicação Social / Jornalismo (PUC-Rio) e técnico em eletrônica (CEFET-RJ). Foi gerente executivo de Produção, Aquisição e Parcerias na EBC, além de gerenciar o setor de Criação de Conteúdos e coordenar as Redes Sociais da TV Brasil. Liderou também a área de Inovação/Novos Negócios na TV Escola. Atuou ainda na criação do Canal Educação e do Canal LIBRAS para o Ministério da Educação (MEC). Fez cursos presenciais em Harvard e Stanford sobre Inovação na Educação. Deu aulas em cursos de graduação e pós-graduação nas universidades UniCarioca, Unigranrio, FACHA, INFNET e CEFOJOR (Angola). É membro da SET (Sociedade de Engenharia de Televisão).

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