EBC na Rede

EBC na Rede

A partir de janeiro de 2012, a Empresa Brasil de Comunicação inicia sua presença nas mídias sociais. Com começo tardio, não havia mais o nome “EBC” disponível para registro nos principais serviços. A princípio, a equipe da recém criada Superintendência de Comunicação Multimídia pensou no nome “NossaEBC”, porém o mesmo tinha pouco significado. A saída encontrada teve inspiração nas ações da campanha presidencial de 2010, quando a então candidata Dilma Rousseff se apresentava na internet como “#DilmanaRede”.

#DilmanaRede foi inspiração para presença da EBC na internet

#DilmanaRede foi inspiração para presença da EBC na internet

A partir dessa definição, a empresa pública de comunicação passou a implementar as seguintes ações:

  • Debates pela internet usando a ferramenta Hangout
  • Coberturas de eventos pelas redes sociais
  • Ações interativas em programas da TV Brasil, Rádio MEC AM, Rádio MEC FM, Rádio Nacional do Rio e Rádio Nacional de Brasília

Paralelamente, era desenvolvido pela empresa Santafé Ideias o portal da EBC, substituindo o site institucional que ocupava o endereço “ebc.com.br”.

A convergência de mídias passa a ganhar mais força dentro da EBC com a indicação do então superintendente de Comunicação Multimídia, Nelson Breve Dias, para a presidência da empresa. O portal da EBC é lançado oficialmente no dia 29 de outubro de 2012, mas já estava no ar em versão “beta” desde o dia 16 de julho do mesmo ano.

O Portal da EBC tinha a ideia inicial de reunir todo o conteúdo produzido pelos veículos da empresa:

  • TV Brasil
  • TV Brasil Internacional
  • Agência Brasil
  • Radioagência Nacional
  • Rádio MEC AM
  • Rádio MEC FM
  • Rádio Nacional do Rio de Janeiro
  • Rádio Nacional AM de Brasília
  • Rádio Nacional FM de Brasília
  • Rádio Nacional da Amazônia
  • Rádio Nacional do Alto Solimões

Contudo, a partir do concurso público realizado em setembro de 2012, novos jornalistas foram integrados à equipe, até o momento reduzida.

Equipe de jornalista multimídia da EBC

Equipe de jornalista multimídia da EBC, com concursados, indicados e terceirizados

A equipe passou a ser formada por:

  • Celetistas concursados da EBC
  • Gestores com cargo de confiança da EBC
  • Celetistas terceirizados da Acerp

A partir daí, passou a produzir conteúdo próprio com maior volume, padronizando suas postagens no Twitter a cada 30 minutos e no Facebook a cada 1 hora. O setor aposta ainda em transmissões transmidiáticas, aliando rádio, TV e Web.

O programa especial sobre os 90 anos da primeira transmissão de rádio no Brasil teve produção de 90 minutos. Os 30 primeiros minutos foram transmitidos para as três plataformas. Os 60 restantes foram apenas para a rede pública de rádios e para a internet, contando com a participação via redes sociais.

Outro exemplo foi o Festival de Música das Rádios MEC AM e Nacional de 2012. A TV Brasil gravou o programa para exibição posterior, mas as rádios transmitiram a gravação ao vivo. Já o portal da EBC começou a transmitir meia hora antes e continuou pelo mesmo tempo após o fim das gravações. O conteúdo extra era de entrevistas com os participantes do programa. Durante os intervalos de troca de palco, rádio e Web entravam juntas ao vivo com conteúdo próprio.

 

Operador de Rede da EBC (TV Brasil)

Em 2009, a EBC abriu consulta pública sobre o Operador de Rede, um projeto que pretendia levar programações de TVs do campo público para cidades com mais de 200 mil habitantes. Haveria inicialmente uma central nacional que empacotaria dois canais de 6 MHz com seis programações cada (Figura 4), incluindo TV Brasil, TV Câmara, TV Senado, TV Justiça, TV Escola, TV MinC e Canal Saúde. As centrais locais receberiam este sinal e usariam mais um canal para a transmissão do conteúdo local: TV Comunitária, TV Legislativo Estadual, TV Legislativo Municipal, TV Universitária e TV Pública Local.

A proposta, porém, tinha muitas lacunas. A principal dela era o financiamento do sistema. Por se tratar de muitas emissoras de matizes diferentes, o custeio do Operador de Rede era complexo e inédito no Brasil. O projeto era que a implantação ocorresse via PPP (Parceria Público-Privada), permitindo que a empresa escolhida utilize a infraestrutura instalada para prestar serviços a outros clientes.

Outro ponto polêmico foi a qualidade de imagem, já que seis programações dividiriam uma frequência de 6 MHz. As TVs públicas locais, que já possuem outorga para um canal próprio, dependiam do financiamento federal para a migração digital, contudo o dinheiro não saía, pois o objetivo do governo era que as TVs estaduais ocupassem espaço no Operador de Rede, dividindo a frequência com outras emissoras locais. Apenas a TV Cultura de São Paulo e a TV Ceará, que receberam ajuda dos governos estaduais, inauguraram seus sinais digitais.

A ABEPEC, associação das emissoras públicas, criticou o projeto. Após passar por várias versões, a atual proposta coloca a EBC como a empresa para administrar o Operador de Rede e retira as emissoras locais do multiplex. Ela também permite que cada emissora tenha mais qualidade, inclusive com a transmissão da TV Brasil em alta definição.

Como o SBTVD prevê apenas uma programação móvel, a utilização desse veículo (OneSeg) também seria alvo de discuta entre as TVs. Além disso, os satélites hotspot, com muitas antenas parabólicas apontadas para eles (como StarOne C2 e B4) não teriam espaço livre suficiente para carregar o Operador de Rede no modo aberto (FTA – Free to Air).

O então articulador do “Operador Único da Rede Publica Digital” na Casa Civil da Presidência da República, André Barbosa, ocupa atualmente o cargo de diretor da EBC, onde dá seguimento ao desenvolvimento do projeto.

Projeto da Telebrás

A Telebrás foi reativada em 2010 para gerir o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Através da infraestrutura do PNBL, a empresa pública pretendia levar as TVs públicas e outros conteúdos sob demanda através do sistema IPTV.

Havia ainda a possibilidade de a distribuição da central para os operadores locais ocorrer via Telebrás, mas que a recepção doméstica fosse realizada via TV Digital aberta, assim como o projeto da EBC.

Canal da Cidadania

Fora do processo do Operador de Rede, o Canal da Cidadania foi regulamentado em dezembro de 2012, reservando uma frequência a ser outorgada para a Prefeitura ou o Governo do Estado em todos os municípios do Brasil. Cada canal terá potência suficiente para cobrir a área da cidade.

O Canal da Cidadania permite a transmissão multiplexada de uma TV do poder público local, outra do poder público estadual e de duas TVs comunitárias. Com isso, as TVs comunitárias já existentes ganham a oportunidade de transmissão aberta. Atualmente apenas existem no cabo.

 

TVs públicas: trabalho final de pós-graduação analisa emissoras de todo o mundo

TV PÚBLICA E CONVERGÊNCIA: OPERADOR DE REDE, SOCIALCAST E TRANSMÍDIA

Autor: Arthur William
Orientador: José Raimundo Cristóvam

Apresentado em fevereiro de 2013 para o MBA de TV Digital, Radiodifusão e Novas Mídias de Comunicação Eletrônica (UFF – Universidade Federal Fluminense)

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Nos últimos anos, foram muitas as transformações sofridas pelas rádios e TVs do chamado campo público (Públicas, Estatais, Culturais, Comunitárias e Universitárias). Este trabalho analisa esse processo dentro de um cenário de convergência tecnológica e suas perspectivas para o futuro. De que forma essas emissoras se articulam com Internet, TV digital, rádio digital e mídias sociais.

A EBC (Empresa Brasil de Comunicação), criada há 5 anos, se coloca como cabeça de uma rede pública de TV, rádio e Web. Em 2012, a empresa retomou o projeto do Operador de Rede Digital, iniciativa que promete levar a programação dos canais públicos para todo o país. Foi criada ainda uma Superintendência de Suporte para cuidar do tema, chefiada pelo ex-assessor da Casa Civil, André Barbosa, ator responsável pela implementação do padrão nipo-brasileiro de TV Digital em nosso país, que ajudou a levar o ISDB para América Latina e África.

Também nesse ano, a EBC inaugurou um portal na internet. O objetivo é reunir o conteúdo produzido por seus canais (TV Brasil, TV Brasil Internacional, Agência Brasil, Radioagência Nacional, Rádios MEC e Rádios Nacional), além de veicular material próprio.

Paralelamente, o governo brasileiro estuda a criação de um novo marco regulatório para as Comunicações, já que a atual legislação é antiga.

Com a crise do modelo de sustentabilidade das emissoras privadas (baseada na publicidade comercial), o sistema público de comunicação ganha importância vital para que seja garantido o direito humano à Comunicação. As emissoras públicas têm fontes diversas de financiamento como impostos, verba do orçamento e fundo público. Apesar de plurais, há pontos em comum, além de tendências e barreiras idênticas.

Em especial no Brasil, a convergência tecnológica tem um papel fundamental para que as TVs públicas ocupem função de destaque na comunicação. Os limites impostos pela legislação, a baixa qualidade no sinal de transmissão e reduzida presença nos territórios nacional e internacional colocam as mídias sociais como uma essencial plataforma de distribuição de conteúdos.

A integração entre TV e internet gera aparelhos convergentes, como TVs conectadas (broadband TVs), mas ações de conteúdo ainda não estão claras, já que a internet é vista por considerável parte dos profissionais de TV como concorrência. Há lacunas ainda como o rádio digital, cujo padrão não é definido. Enquanto isso, as emissoras AM estudam sua migração para uma faixa estendida do FM, atualmente ocupadas pelos canais 5 e 6 de televisão.

O futuro das comunicações está repleto de inovações. Cabe às TVs públicas a utilização dessas novidades para cumprir sua função de empreender uma comunicação interativa, colaborativa e comprometida com o interesse público.

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Muitos foram os avanços das empresas de comunicação visando a convergência de mídias, porém ainda há muitos entraves que dificultam um fluxo de trabalho (workflow) que unifique áreas até então distintas, como televisão, rádio e internet. A cultura (mentalidade) das empresas e o engessamento funcional por conta das regras trabalhistas são outros fatores dificultantes.

A popularização das mídias sociais impulsiona as relações entre setores, derruba as paredes e integra equipes. A responsabilidade sobre a presença na internet ainda não está clara. Algumas empresas criam setores para cuidar exclusivamente disto, já outras estabelecem diretrizes transversais, as quais são seguidas pelos profissionais de diversas áreas.

O Rádio Digital ainda não ganhou popularidade em nenhum país. Na onda contrária, Portugal desligou seus transmissores. A aposta é na conectividade da internet, que permite a um aparelho receber milhões de canais de áudio com qualidade. No caso do rádio, a radiodifusão não apresentou benefícios suficientes para a digitalização.

O áudio é uma mídia apropriada para o perfil de interação do futuro, onde uma pessoa fará várias tarefas ao mesmo tempo. O sucesso dos podcasts comprova esta hipótese. Só é preciso que os atuais produtores repensem seus trabalhos dentro de um cenário de convergência (Figura 10). Não são mais produtores de rádio, mas sim produtores da mídia áudio para diversas plataformas: rádio, streaming e podcast.

Outro ponto é que o ROI nas mídias sociais é muito maior que o da digitalização. Resultado disso é o pedido das TVs brasileiras para o adiamento do desligamento das transmissões analógicas e seu forte investimento na web. Em outra frente, o socialcast torna todo conteúdo global, ou seja, a comunicação local tem que ser repensada. Isso gera uma redução das identidades locais e fortalecimento de outras identidades. O conceito de comunidade, sempre restrito à questão territorial, passa a ser ligado a afinidades outras. Muitas vezes, uma pessoa tem mais proximidade com alguém que mora a milhares de quilômetros de sua residência do que com seu vizinho, com que nem ao menos fala e sabe o nome.

A comunicação multiplataforma e transmidiática é mais custosa e complexa. As empresas públicas têm grande possibilidade de se destacarem neste cenário, já que seu modelo de negócios não depende da tradicional publicidade comercial. Novas empresas comerciais compreendem isso e têm mais sucesso do que velhos players que enfrentam dificuldades na adaptação.

O desafio das públicas é ter a agilidade que a atualidade demanda. Se ficarem presas a velhas convenções, estarão fadas ao fracasso. No caso delas, o fracasso de público, com redução de audiência. E também correr o risco de serem extintas, já que perderiam a justificativa da existência, na medida em que o serviço prestado não seria mais necessário à população.

No caso brasileiro, a EBC é uma empresa estatal, com quadro funcional composto majoritariamente por celetistas concursados. Entretanto, pode ter como empresa auxiliar a Acerp, uma associação privada sem fins lucrativos. A Acerp seria o braço responsável pela pesquisa e inovação, função essencial para o desenvolvimento do sistema público de comunicação, a qual nem EBC, nem demais TVs estaduais conseguem desempenhar com excelência.

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Legislação da Comunicação Pública

No Brasil, a Constituição de 1988 divide os meios de comunicação em Estatais, Públicos e Privados, contudo, como não há regulamentação para este artigo, valem as leis específicas. O 1º Fórum Nacional de TVs públicas, realizado em 2007, definiu informalmente o chamado “campo público”, composto pelas seguintes emissoras: públicas, comunitárias, culturais, universitárias e educativas.

O governo estuda a criação de uma Lei Geral, também conhecida como Marco Regulatório das Comunicações, que regulamentaria esta situação. Entretanto, o processo não foi seguido pelo governo da presidenta Dilma Rousseff. O Brasil possui uma série de leis que tratam da Comunicação e as TVs e Rádios Públicas trabalham de acordo com boa parte deles.

O capítulo V da Constituição Federal de 1998 fala em seu artigo 223 em “complementaridade dos sistemas privado, público e estatal”. O país não define cada um deles, o que dificulta a distinção principalmente entre estatais e públicas. A Argentina e o Uruguai aprovaram recentemente leis que separam as comunicações entre público-estatais (canais geridos pelo poder público, independentemente das programações), privados com fins de lucro (o que no Brasil é conhecido como TV comercial) e privados sem fins de lucro (comunitárias, cooperativas e associativas).

Outro ponto é que a complementaridade brasileira não é cumprida, ou seja, a maioria esmagadora das frequências são destinadas a rádios e TVs comerciais.

A Lei 11.652 de 2008 cria a EBC, oriunda estatal Radiobrás, e dá um prazo de validade para a Acerp, que administrava a TVE do Rio de Janeiro e a Rádio MEC. As demais frequências de órgãos federais, como universidades, são transferidas para a nova empresa. Esta lei define a comunicação publica federal, mas deixa de fora as emissoras comunitárias e estaduais. Já o atual estatuto da EBC foi estabelecido pelo Decreto 6.689 de 2008.

As TVs educativas, que compõem o “campo público”, foram criadas pelo Decreto-lei 236 de 1967. Estes canais foram o embrião do que conhecemos como comunicação pública no Brasil, tendo a TVE do Rio de Janeiro como cabeça de rede de um sistema de emissoras por todo o país.

A concessão de TVs e rádios educativas foi suspensa recentemente pelo Ministério das Comunicações por conta do uso político de algumas das já existentes.

No campo das comunitárias, a lei da TV a Cabo (8.977 de 1995) já previa a existência de TVs desta natureza no line-up das operadoras, o que foi ratificado pela Lei de Acesso Condicionado (12.485 de 2011), que substituiu a primeira. Apesar de cerca de 550 municípios terem operação de TV a cabo, apenas 67 canais comunitários funcionam no Brasil.

Para as rádios, a existência é garantida pela lei 9.612 de 1998, a qual define Rádio Comunitária como uma emissora sem fins lucrativos, com potência e alcances limitados a 25 Watts e 1 km de raio. Através desta restrição, os conteúdos produzidos por estas só chegariam a usuários locais, já que o entendimento de comunidade para a lei é territorial. Além disto, é vetada a formação de rede de rádios. Cada município possui apenas uma frequência para este tipo de comunicação.

O decreto 5.820 de 2006, que implanta a TV Digital no Brasil, prevê a existência de quatro canais: do poder executivo; da Educação; da Cultura; e outro da Cidadania.

O Canal da Cidadania é regulamentado pela Portaria 489 de 2012. Trata-se de uma concessão de TV digital para todos os municípios, administrada pela prefeitura. A poder executivo municipal é obrigado a transmitir ainda uma programação do governo estadual, além de dois canais comunitários.

 

Conceitos de TV pública

Não há um conceito único de TV pública, nem ao menos um consensual. Contudo, esta pesquisa leva em conta a proposta de regulamentação do artigo 223 da Constituição Nacional redigida pelo Intervozes. Segundo o documento “Por um Sistema Público de Comunicação”, uma empresa pública da área deve possuir independência de gestão, financiamento e programação.

A gestão deve ser realizada por um organismo independente da máquina estatal, como acontecia no Brasil com a Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto), entidade que encabeçou a rede pública de televisão até 2007. Tal autonomia garante que o canal não sofra interferências do Estado, como mudança de seus diretores. A EBC, apesar de ser estatal, tem seu presidente com um mandato de 4 anos, definido por lei. É uma forma de aproximação da independência administrativa mesmo dentro de uma empresa ligada ao poder executivo.

O controle social é outro quesito exigido para a gestão. A BBC possui a principal experiência neste sentido, com um conselho composto por representantes da sociedade civil. Cabe ao conselho:

 

  1. a) ser o guardião da licence fee e do interesse público; b) administrar os recursos da BBC e da licence fee; c) representar o interesse dos contribuintes; d) garantir a independência da BBC; e) assegurar altos padrões de abertura e transparência. O órgão deve também: a) definir diretrizes estratégicas com base na Carta Real e do acordo; b) aprovar a estratégia dos serviços providos pela BBC; c) avaliar o desempenho da diretoria executiva e dos serviços prestados; d) aprovar as diretrizes e política para o conteúdo; e) aprovar e renovar licenças dos serviços providos pela BBC. (VALENTE, 2009, p. 239).

 

A própria empresa brasileira se inspirou nesse modelo para criar seu Conselho Curador. Outras TVs do mundo seguiram o mesmo caminho.

O segundo ponto é o do financiamento. Uma TV pública deve ter independência financeira tanto do poder estatal, quanto da iniciativa privada. No Reino Unido, França e Japão, por exemplo, os telespectadores pagam impostos para a sustentabilidade destas emissoras. O Brasil rejeitou a possibilidade devido ao fato de país já manter uma alta taxa tributária. A solução foi a destinação de 10% do Fistel (Fundo de Fiscalização das Telecomunicações) para custeio da EBC. Porém, as operadoras de telecomunicações, que contribuem para o Fundo, conseguiram impedir o repasse na Justiça em 2009. Este bloqueio significa a dependência das receitas de publicidade institucional e das verbas do orçamento da União.

Em vários locais, as fontes de financiamento são variadas, unindo impostos, publicidade e verbas públicas. De acordo com a Associação Mundial de Rádios Comunitárias, o mais importante é que as diversas fontes garantam a sustentabilidade da emissora, possibilitando sua existência e que tenha recursos técnicos equiparáveis aos das demais emissoras.

Já a programação deve refletir a pluralidade cultural e étnica da área atendida. A audiência não seria o principal critério para a produção de programas, mas sim o interesse público da atração.

Apesar dos três critérios (gestão, financiamento e programação), muitas emissoras são consideradas públicas mesmo não atendendo a todos estes requisitos. Em geral, a existência de uma programação voltada para o chamado interesse público aliada ao controle por um órgão público ou estatal é o definidor de uma emissora pública. Por outro lado, canais como a TV Senado e NBR são consideradas estatais por veicularem conteúdo de divulgação de atos oficiais.

 

Socialcast

Socialcast

Socialcastmashups, computação em nuvem, mídias sociais e de compartilhamento: todas essas são palavras recentes no vocabulário das televisões. A radiodifusão tradicional abre espaço para as novas mídias substituindo o velho broadcast pelo socialcast.

TV Brasil, emissora pública da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), alia estes conceitos em seu websitewww.tvbrasil.org.br e em sua presença nas mídias sociais.

Mapa das mídias sociais da TV Brasil

Através do publicação de todo seu material multimídia em plataformas sociais de compartilhamento, a TV Brasil tem os seguintes benefícios:

  • Alívio no servidor do site (vídeos ficam armazenados fora do site)
  • Integração com o site da TV Brasil (através de mashups)
  • Distribuição pelas redes sociais (o chamado socialcast)

A TV pública federal utiliza as seguintes mídias sociais como plataformas de compartilhamento de seusconteúdos:

Mashup do YouTube na seção de vídeos do site da TV BrasilMashup do YouTube na seção de vídeos do site da TV Brasil

Esta opção multiplica as telas de exibição do material produzido pela TV Brasil. Se os mesmos conteúdos fossem armazenados apenas no site da emissora pública, somente os usuários que entram no endereço www.tvbrasil.org.br poderiam ter acesso a eles.

Social Cloud (cloud computing nas mídias sociais): a publicação do material multimídia na nuvem das plataformas de compartilhamento alivia o servidor de hospedagem do site, além de permitir uma difusão alternativa (que pode vir a ser a principal) para os conteúdos: o socialcast.

Socialcast é a difusão de conteúdos pelas redes sociais. Para um canal de televisão, é essencial disponibilizar seus vídeos sob demanda na Web (VoD). Isto acontece pois a radiodifusão (broadcast) é unidirecional e linear, ou seja, se alguém perde a hora de um programa, nunca mais poderá rever determinado audiovisual. Além disto, uma grade de programação é limitada: 24 horas por dia, 7 dias por semana. A Web comporta muito mais conteúdos, on demand, em qualquer lugar do mundo, já que não ficam limitadas ao alcance da antena de transmissão.

Flickr: fotos do site da TV Brasil são armazenados na nuvem da mídia socialSocial cloud no Flickr: fotos do site da TV Brasil são armazenadas na nuvem da mídia social

Além disto, vale ressaltar que o investimento numa plataforma de distribuição Web é infinitamentemenor do que a de uma grande infraestrutura de transmissão de TV. Ainda há duais grandes barreiras: a dificuldade de se encontrar um novo modelo de negócios que não seja pela publicidade em intervalos comerciais; e a baixa penetração da internet banda larga no Brasil.

Mas o cenário tende a mudar nos próximos anos com a implementação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e pelo fortalecimento do sistema público de comunicação, que não depende de verba publicitária para sobreviver. Este cenário futuro mostra que o investimento das empresas públicas de comunicação em Web é uma aposta que dará retorno num curto prazo.

Mashups integram mídias sociais a sites e blogs

Comentários do site da TV Brasil vêm do Twitter - MashupComentários do site da TV Brasil vêm do Twitter

Na ligação entre o maravilhoso mundo do social cloud(armazenamento na nuvem) e do socialcast (distribuição pelas redes sociais) entra o mashup.

Mashup é uma aplicação que liga mídias sociais em geral a sites e blogs. Isto acontece pois serviços como YouTube, Twitter, Flickr e Facebook tornam públicas suas APIs (código de integração) para desenvolvedores  produzirem mashups. Com isso, é possível que um conteúdo audiovisual publicado no YouTube, por exemplo, seja acessado através da própria ferramenta de vídeos do Google e pelo site da TV Brasil, ampliando o alcance da TV pública e multiplicando as telas do canal.

Comentários via Twitter

Além de todas as fotos e os vídeos da TV Brasil serem armazenados fora do site, os comentários também são agregados via mashups.

Citações, comentários, críticas e elogios à emissora da EBC ou a um de seus programas são exibidos no site a partir da interatividadeocorrida no Twitter.

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